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Ensino em Videocirurgia

Ensino em Videocirurgia

ENSINO EM VIDEOCIRURGIA NO BRASIL - 30 ANOS APÓS A PRIMEIRA COLECISTECTOMIA POR VIDEOLAPAROSCOPIA

Questões que envolvem o ensino da videocirurgia permanecem em debate no Brasil. A videocirurgia alcançou uma projeção tão importante no contexto da maior parte das especialidades cirúrgicas que o domínio do método tornou-se fundamental para o cirurgião, inclusive para procedimentos de maior complexidade. Além do mais, a videocirurgia é o ambiente em que a cirurgia robótica se desenvolve como "nova" ferramenta tecnológica a ser utilizada pelos cirurgiões no seu dia a dia.

Os cursos intensivos ainda perfazem a grande maioria dos projetos de ensino existentes no país, alguns com anos de atividade. São centrados em treinamento prático em simuladores (simuladores simples, na maior parte das vezes - caixas brancas, antigas caixas pretas) e animais de experimentação, basicamente modelo suíno vivo. Têm curta duração e capacidade relativamente grande de alunos. Os custos diretos e indiretos organizacionais são altos, porém normalmente contam com amplo apoio das empresas da área médica. Cursos intensivos por si só não conseguem habilitar o cirurgião a iniciar com segurança a realização de videocirurgias. O foco é no desenvolvimento de habilidades psicomotoras e não em processos estruturais, organizacionais e de comunicação de equipe o que se sabe hoje absolutamente fundamental para o sucesso de um serviço como um todo e de um procedimento cirúrgico específico. Os cursos intensivos são eficientes como informação inicial e inseridos em um currículo formacional completo que inclua também uma parte clínica tutorada por cirurgião mais experiente. Os cursos intensivos tendem a ser eficientes para aprendizado de técnicas específicas e/ou avançadas para cirurgiões com treinamento básico prévio. A inauguração do IRCAD Brazil em Barretos, SP, no ano de 2011 foi um marco no ensino e treinamento em videocirurgia no Brasil, trazendo para nosso país o maior centro de treinamento do mundo, com uma metodologia muito bem estabelecida e com foco em inovação.

Em relação a cursos extensivos, os projetos são ainda limitados no Brasil. Cursos extensivos são centrados no treinamento prático tutorial em campo cirúrgico associado ao treinamento básico baseado em simulação cirúrgica. Tem duração variável, porém longa. O número de vagas é variável. Os custos direto e indireto são também altos, principalmente porque necessita estrutura permanente. São cursos de difícil viabilização, pois têm organização complexa. No entanto, habilitam a iniciar com segurança a realização de procedimentos, acompanhando e orientando a estruturação e organização de um Serviço, conferindo vivência em videocirurgia. Em 2008, o Instituto de Educação e Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre, RS inaugurou o seu curso de pós-graduação em cirurgia minimamente invasiva com 15 meses de duração e que já está em sua décima segunda turma. Já a UNICETREX de Brasília desenvolve cursos de extensão há dez anos com sedes em Manaus, AM, Teresina, PI, Rio de Janeiro, RJ, São Paulo, SP, São Luis, MA e Brasília, DF.

Neste período de tempo, uma importante inovação no treinamento da videocirurgia foi a introdução da realidade virtual como plataforma de treinamento, abrangendo não só habilidades básicas e avançadas como a possibilidade de realização de procedimentos videocirúrgicos virtuais como colecistectomias, apendicectomias, cirurgia bariátrica, procedimentos ginecológicos, entre outros.Inaugurado em março de 2014, o Instituto SIMUTEC, com sede em porto Alegre, RS, foi a primeira empresa no Brasil a oferecer treinamento individual e continuado em procedimentos minimamente invasivos, com cronogramas 100% práticos e exitosa parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O Instituto SIMUTEC trouxe a simulação em realidade virtual e todo o potencial educacional acoplado a tecnologia de educação como uma nova revolução no treinamento em videocirurgia. A sua expansão, com a abertura de um segundo centro de treinamento na Escola de Educação da Universidade de São Paulo, e a evolução dos simuladores trazem um universo de possibilidades adicionais para o ensino das técnicas videocirúrgicas e, a seguir, da cirurgia robótica.

Em seu portfólio de cursos, o Instituto SIMUTEC oferece uma ampla gama de treinamentos adaptáveis as necessidades e possibilidades do aluno, de forma personalizada e acoplando avaliação objetiva do desempenho ao treinamento.

Estimulado pela evolução técnica e tecnológica da videocirurgia, pressionado pelas empresas interessadas em vender seus cada vez mais avançados e caros equipamentos, por hospitais que buscam profissionais que realizem procedimentos de ponta tecnológica, pelos convênios e seguradoras de saúde interessadas em diminuir os custos hospitalares, por empresas que querem os seus empregados de volta a atividade laboral com brevidade, pelos pacientes que também necessitam retornar o mais rapidamente possível para as suas atividades normais, preocupados com o fator estético e com um pós-operatório mais suave, eis o cirurgião frente a uma verdadeira encruzilhada profissional.

Como fazer uma formação que habilite a realização de videocirurgias com segurança? Como conciliar a continuidade da vida profissional com uma formação sólida no método? São perguntas que fiz 16 anos atrás e que continuam muito relevantes, mesmo porque a videocirurgia se tornou ainda mais central na atividade dos cirurgiões.

Em resumo, concluo que minha opinião em relação a formação em videocirurgia continua a mesma! O treinamento deve ser feito por etapas, de forma gradativa e progressiva na complexidade dos procedimentos, sob supervisão e preceptoria de profissional habilitado, dentro de um serviço com volume cirúrgico significativo no método, e com tempo de treinamento suficiente. Porém, o que mudou é a percepção clara que antes dessa etapa dita clínica, é fundamental o desenvolvimento de habilidades psicomotoras com a utilização de simulação. Sem isso, o processo de aprendizado do cirurgião se torna não só menos efetivo, como eticamente discutível. A estruturação de currículos de treinamento baseados em simulação cirúrgica modificou esta realidade. Grandes centros de treinamento como o Medical Institute da Johnson & Johnson e o CCI da Medtronic em São Paulo, além dos IRCADs em Barretos, SP e Rio de Janeiro e o Instituto SIMUTEC tem contribuído muito para o treinamento dos cirurgiões, fornecendo com a utilização da simulação cirúrgica, a base necessária para o cirurgião iniciar os seus procedimentos nos pacientes com maior segurança.

A questão central em 2004 era determinar um eficiente e abrangente processo evolutivo da videocirurgia no nosso meio com o objetivo final de disseminar o conhecimento sobre o método, mantendo o melhor padrão de qualidade cirúrgica, possibilitando uma atividade profissional estruturada, atualizada e segura. Acredito que melhoramos muito nisto! Ainda necessitamos de mais centros de treinamento, melhor aparelhados tanto do ponto de vista humano como tecnológico, de caráter permanente, com projetos de ensino de duração mais prolongada, maior ênfase em orientação organizacional e apoio tutorial. O desenvolvimento de "escolas formadoras de videocirurgiões" deve continuar a ser incentivado já mirando a formação em cirurgia robótica.

A realidade virtual e o ensino a distância pela telemedicina estão sendo cada vez mais incorporados ao ensino da videocirurgia. A evolução da Videocirurgia continua diretamente relacionada a um investimento vigoroso em ensino, treinamento e qualificação, o qual, deve iniciar já na graduação médica.